Aquilo que faz a diferença entre eu gostar de uma viagem ou a adorar são as pessoas com quem me cruzo. A simpatia, a autenticidade, os sorrisos, as conversas, as expressões, a generosidade. A diferença. Posso afirmar, com toda a certeza, que o povo marroquino foi o povo que mais me marcou até ao dia de hoje. E isso acabou por tornar esta viagem muito especial - uma das minhas favoritas.
Marrocos foi o meu primeiro grande choque cultural. Foi o segundo país muçulmano que visitei e por isso julguei que estava preparada, depois de ir à Turquia… mas enganei-me redondamente. Dizem que Marrocos é a Europa da África, e por isso um bom ponto de partida para conhecer este continente. No entanto, isto não significa que Marrocos seja parecido com qualquer outro país que eu já tenha visitado antes - as diferenças são gigantescas e a adaptação não é imediata.
Gosto de pensar que tenho uma mente minimamente aberta, mas a verdade é que o primeiro impacto ao chegar ao centro de Marraquexe (dentro da Medina) foi grande. Marraquexe é uma cidade caótica, muito mais do que Istambul, e senti um grande desconforto ao início. Estava perdida, havia demasiada coisa a acontecer, poucas regras, muito movimento… e muita pobreza também.
Ao saírmos do transfer, que nos deixou numa rua sem quaisquer turistas e de onde ainda não víamos o nosso hotel, eu e a minha família entreolhámo-nos. Percebi imediatamente que estávamos todos um pouco assustados, mas ninguém queria dizer nada. Eventualmente, o meu pai deu voz a esta insegurança: “Então, quando é o voo de volta?”
Era uma piada, claro, mas os risos nervosos com que lhe respondemos não geraram muita confiança. Seguimos para o hotel, onde mudámos de roupa e nos preparámos para sair novamente à rua e desbravar a cidade, em busca de um sítio para jantar.
Posso dizer que, a partir desse ponto, demorámos cerca de 1h a ficar completamente adaptados. No final do jantar, estávamos já muito à vontade e super entusiasmados para o resto dos dias. É incrível a capacidade dos humanos de mudarem o mindset quase de um momento para o outro. Aquilo que nos assustava há umas horas, era agora muito mais natural. Marrocos entranhou-se em nós rapidamente e nós abri-mo-nos a este país tão interessante e diferente.
A minha viagem durou cerca de 4 dias e meio. Passei dois deles em Marraquexe e os outros dois numa viagem ao deserto, em Zagora. Em baixo deixo os posts relativos a estas duas partes da viagem:
Sei que Marrocos não é para todos, mas peço que, se o visitarem, o façam de forma tolerante, com disposição a aprender sobre esta cultura tão diferente da nossa. Acreditem, valerá a pena.
Uma das experiências mais imperdíveis que se pode ter em Marrocos é ir ao deserto. Foi a minha parte favorita da minha viagem a este país pois permitiu ver um lado de Marrocos bastante diferente daquilo que se vê em Marraquexe, tanto a nível paisagístico, como no que toca às pessoas e aos seus costumes.
Existem várias formas de visitar o deserto, a vários custos. Tipicamente, os turistas optam por fazer uma tour, que os leva desde a cidade em que estão até a um dos desertos lá próximos. Isto facilita imenso toda a logística e torna a experiência mais interessante, pois as tours incluem paragens pelo caminho, onde guias locais mostram vários pontos de interesse e contam a história dos povos que ali vivem. Não costumo fazer tours, mas, neste caso, recomendo definitivamente.
A partir de Marraquexe, existem duas tours muito populares para ir até ao deserto: a primeira é uma tour de dois dias, até ao deserto de Zagora. A segunda vai mais longe, a Merzouga, e dura três dias. Eu optei pela primeira e adorei!
Marquei a tour através do hotel, mas existe também a possibilidade de o fazer online, por agências de viagens. Custou 60€ por pessoa e o grupo era de cerca de 15 pessoas. Todas as tours para Zagora são muito semelhantes, podendo o preço variar consoante o tipo de acampamento escolhido para a noite no deserto. Existem três tipos, com luxos diferentes. Eu escolhi o mais barato, e voltaria a fazê-lo. Achei o preço justo, visto que inclui:
todos os transportes;
guias;
entradas em atrações;
passeio de camelo;
dormida no deserto;
um pequeno-almoço e um jantar (feitos no deserto).
A viagem
O deserto Zagora fica a cerca de 6h de carro de Marraquexe, mas fazem-se bastantes paragens pelo caminho. Isto significa que, apesar de sairmos bem cedo da cidade, chegámos a Zagora já ao final do dia.
Quero salientar que é muito fácil ficar mal-disposto durante a viagem, visto que é bem longa e há imensas curvas. Se conseguirem, recomendo que se sentem o mais para a frente possível no mini-autocarro, para minimizar a probabilidade de enjoo. Houve várias pessoas que se sentiram mal, incluindo eu.
Embora o deserto seja o ponto alto da tour, as paragens que vamos fazendo durante as viagens, tanto de ida como de volta, são também muito interessantes. Por vezes paramos só para comer, ou apreciar as vistas, mas o melhor é quando nos levam a conhecer as povoações, todas elas tão diferentes de Marraquexe. Nestas ocasiões, somos sempre acompanhados por um guia local, que nos leva aos pontos de interesse e conta um bocadinho de história sobre aquela localidade.
De todos os sítios que visitei, destaco a pequena aldeia de Ait Ben Haddou, muito conhecida por ter sido escolhida como local de filmagem para a série “Game Of Thrones”. É espetacular!
O deserto
Ir ao deserto foi muito diferente, e muito especial para mim.
O acampamento é composto por uma casa de banho, partilhada por todos, um espaço comum interior (onde o jantar é servido) e uma espécie de tendas, com camas e cobertores lá dentro. Partilhei tenda apenas com a minha família (éramos quatro), e tudo correu bem. No entanto, na tenda ao lado havia uma brasileira que no dia seguinte nos disse que não dormiu nada, porque viu um rato!
A casa de banho é no exterior, por ser partilhada. É grande, mas não tem qualquer saneamento (o autoclismo é um balde com água) e estava bastante suja… mas faz parte, deu para rir bastante!
Fizemos duas pequenas viagens de camelo, uma para ir para o acampamento, e outra para regressar, no dia seguinte. Nunca o tinha feito, e tinha vontade de experimentar - tudo correu bem!
O único contratempo que tive foi o facto de ter percebido (erradamente) que nos iam trazer as mochilas para o acampamento… e isso não aconteceu. Eu e a minha família não tínhamos nada, para além dos telemóveis e alguns documentos. Não havia pijama, ou escovas de dentes, ou sequer dinheiro. Isto incomodou-me um bocado ao início, e tentei resolver a situação, sem sucesso. Eventualmente interiorizei que isto era um pequeno precalço que, no fundo, não tinha grande impacto na minha vida, e decidi esquecer e aproveitar a experiência ao máximo.
Jantámos todos juntos (cuscuz, como já seria de esperar) e depois começou a melhor parte de toda a experiência: a animação noturna! Juntámo-nos num círculo à volta de uma fogueira e começámos a cantar, a dançar e a tocar num tambor. Foi um momento super diferente e divertido!
No final da noite, deitei-me numas mantas que estavam em cima da areia e observei o céu, lindo com todas as estrelas bem brilhantes.
Se o deserto à noite é misterioso, de manhã é espetacular. Acordámos com o sol, e depois de comer algum pão e beber chá, seguimos caminho, de volta para Marraquexe.