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Bora lá Viajar!

"Traveling – it leaves you speechless, then turns you into a storyteller"

Qua | 19.08.20

Costa Vicentina // Roteiro de 4 dias pelas praias alentejanas

Joana Lameiras

Manhãs na tenda no parque de campismo.jpg

 

Toda a situação do COVID-19 e da quarentena resultou no cancelamento dos meus planos de viagem, como aconteceu com muita gente em todo o mundo. Ia visitar a Hungria, a Polónia e a Rússia, mas… chegou o vírus e tive de meter todos estes projetos de lado e regressar a casa, não sabendo bem quando iria explorar novos países novamente. Precisamente por causa desta incerteza, comecei a jogar pelo seguro e a pesquisar mais sobre potenciais viagens dentro do meu próprio país. Na minha procura, descobri vários sítios e rotas que me entusiasmaram bastante, aos quais eu nunca tinha dado a devida atenção, talvez porque muitas vezes acabo por me focar mais no que está lá fora e pouco no que tenho aqui tão perto. Uma destas ideias pareceu-me tão interessante que decidi realizá-la uns meses depois: a Rota Vicentina.

Foi encher o carro de tralha - tenda, colchão, mochila, comida - e partir à descoberta com mais duas amigas, tendo o GPS a ditar o caminho. Nos nossos calendários, tínhamos 4 noites disponíveis entre todas, e foi essa a duração da nossa viagem. Decidimos focar-nos na parte alentejana da costa vicentina para a conhecer bem e fazer menos kms, aproveitando mais as praias.

 

car.png

   VIAGEM

Partimos de Coimbra. No geral, a viagem foi tranquila, mesmo com as estradas alentejanas sendo, por vezes, um pouco estreitas. No entanto, houve alguns caminhos que fizemos em que o carro estava a sofrer (e nós com ele), sendo o pior de todos o acesso para a Praia da Foz dos Ouriços, uma praia selvagem, situada em Almograve. Porém, tal como a maioria das praias mais escondidas, vale sem dúvida a pena e, na minha opinião, são estes sítios com menos gente que enriquecem a aventura!

 

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   ALOJAMENTO

 Orbitur Sitava Milfontes - decidimos escolher a opção mais económica e acampar. Ficámos sempre neste parque por causa da curta duração da viagem e achámos que não valia a pena estar a desmontar e montar a tenda quando não iríamos sair muito daquela zona. O parque de campismo encontra-se ligeiramente a norte de Vila Nova de Milfontes, estando bastante bem situado. Com bastante sombra, é muito sossegado e agradável. As wc’s são aceitáveis e tem também uma piscina que parece ser muito boa, mas da qual nós não usufruímos. Dá para ir a pé até à Praia do Malhão, andando cerca de 12 minutos. A estadia para 4 noites ficou em mais ou menos 50€ por pessoa, incluindo uma tenda para as três, um carro e ainda eletricidade.

 

Orbitur Sitava Milfontes.jpg

 

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   ITINERÁRIO

 

DIA 1

Saímos de Coimbra às 9h da manhã, pelo que chegámos à nossa primeira paragem, a Praia de São Torpes, às 12h. Ao sair do carro, a nossa primeira reação não foi muito positiva, devo confessar. A praia em si parece-se como uma outra qualquer, sem nada de especial, e aquilo que realmente se destaca é a central termoelétrica de Sines, que fica extremamente perto e não é, como devem imaginar, muito bonita.

Mas então, porque é que tanta gente começa a sua aventura pela costa vicentina precisamente nesta praia? 

A verdade é que São Torpes tem algo de incrível que pode passar despercebido a quem ficar apenas pelo areal - a temperatura da água. Porque a razão pela qual a praia tem um cenário industrial é precisamente a razão pela qual a sua água chega a estar a 30ºC - a central expele as águas de arrefecimento para aquela área, fazendo com que nem os mais friorentos consigam resistir a tomar banho com aquelas temperaturas tropicais. A praia tem bandeira azul, pelo que não tem poluição, apesar da água ser aquecido por um processo artificial.

Naquele dia o mar estava mesmo ótimo, o que fez com que, no final de contas, ficássemos com uma ótima impressão daquela praia! Tanto que, no último dia, a caminho de Coimbra, optámos por lá voltar - e, infelizmente, descobrimos que nem sempre a água está àquela temperatura, e que há locais específicos da praia para poder usufruir das correntes quentes. De qualquer maneira, recomendo São Torpes, principalmente quando está maré baixa, que é quando mais se sente o quentinho da água!

 

Praia de São Torpes.jpg

São Torpes.jpg

 

De seguida, fomos para a Praia da Samoqueira, a 8 minutos de carro da anterior. Com grande contraste relativamente a São Torpes, a Samoqueira é, sem dúvida alguma, uma das praias mais lindas que já vi na minha vida. A cor da água é espetacular e a sua limpidez surpreendente. Há uma zona que parece quase uma lagoa, rodeada de rochas, algumas com musgo verde, para combinar com a cor do mar. É uma praia mesmo… espetacular, com uma beleza natural estonteante. Nem as fotos lhe fazem justiça - é daqueles lugares que deixam qualquer um de boca aberta. É uma das minhas praias favoritas desta viagem e, para dizer a verdade, de sempre! E se ainda precisam de provas em como Portugal tem recantos tão lindos como qualquer outra parte do mundo, aqui têm uma completamente irrefutável.

 

Praia da Samouqueira.jpg

Águas da Samouqueira.jpg

 

Para terminar o dia, e depois de deixarmos a tenda montada no parque de campismo, fomos passear por Porto Covo. Com casas brancas e azuis, todas a combinar, é um destino muito giro e agradável. O que também ajuda a embelezar a localidade são as suas praias e miradouros para as mesmas. Como era já final de tarde, optámos por não descer para os areais e apreciar tudo de cima. Muito pequenas e intimistas, com uma água esverdeada, todas elas eram muito bonitas. A paisagem naquela zona é linda, cheia de rochas e vegetação própria das praias do sul de Portugal. Toda aquela natureza em volta inspira muito sossego e adorei isso. As praias que vimos foram a Praia dos Buizinhos, a Praia Pequena, a Praia da Gaivota e a Praia do Banho.

 

Porto Covo.jpg

Praia dos Buizinhos.jpg

Praia do Banho.jpg

Praias em Porto Covo.jpg

 

 

 

DIA 2

Infelizmente, o tempo não esteve do nosso lado neste dia. Não estava propriamente frio, mas andámos quase sempre de casaco e o sol manteve-se escondido por detrás das nuvens. Assim, decidimos ter um dia mais sossegado, e passámos a manhã na Praia do Malhão, mesmo junto ao nosso parque de campismo.

Por causa do céu carregado, tivemos a praia quase toda para nós. Apesar das condições atmosféricas não serem as melhores, e até de termos sentido umas pingas enquanto jogávamos raquetes, penso que deu para apreciar a beleza daquela grande praia, principalmente do topo das falésias, pois lá consegue-se ter vistas panorâmicas muito boas.

 

Praia do Malhão.jpg

Escadaria da Praia do Malhão.jpg

 

Depois do almoço, fomos rumo a sul, à Praia das Furnas. Esta é uma praia de aspeto um pouco mais comum, com um extenso areal, mas muito agradável, com algumas grutas e pedras que embelezam o local. É uma das eleitas como 7 Maravilhas - Praias de Portugal e é também, apesar de não o parecer, uma praia fluvial, com fortes influências marítimas. Deste local, consegue-se ver as praias do outro lado do rio Mira - a Praia do Farol e a Praia da Franquia. Mais uma vez, por causa do tempo, a praia encontrava-se bastante deserta e tranquila.

 

Praia das Furnas e Rio Mira.jpg

Praia das Furnas.jpg

 

Para terminar a tarde, e quando o céu começou a abrir um bocadinho, decidimos ir comer um gelado a Vila Nova de Milfontes. Achar estacionamento foi complicado - esta localidade encontra-se bastante na moda, aparentemente, e estava cheia de gente e de vida.

 

fork.png  Lanche

Geladaria San Pietro - Mais uma vez o TripAdvisor não me deixou ficar mal e levou-nos a uma gelataria ótima, com crepes e gelados saborosos! Pedi gelado de mirtilo e estava incrível. As minhas amigas também gostaram dos crepes de chocolate branco e de chocolate preto e morangos. Recomendo - foi um final de tarde delicioso.

 

Crepes na Geladaria San Pietro.jpg

 

 

 

 

DIA 3

Este foi o meu dia favorito - estava muito sol e fomos para sul. A primeira paragem foi a Praia da Foz dos Ouriços, uma praia bastante escondida em Almograve. O trilho não está muito marcado, mas dá para chegar ao areal sem grandes dificuldades, depois de deixar o carro numa clareira pequena, a que o GPS nos levou. A praia é muito selvagem e isso fá-la ainda mais bonita. Com pouca gente por causa do acesso mais complexo, a praia tem água doce assim como água salgada, o que a torna singular. Tem muita vegetação e imensas rochas, o que dificulta ir à água, mas contribui para a beleza da Foz dos Ouriços. Não ficámos muito tempo, principalmente porque tínhamos muitas praias para ver nesse dia e porque queríamos ir tomar um banho no mar, mas esta praia vai ficar sem dúvida na minha memória como uma das praias mais únicas e bonitas da minha viagem. Vale a pena visitar, nem que seja simplesmente para se ver um exemplo de um tesouro escondido da Costa Vicentina.

 

Praia da Foz dos Ouriços.jpg

Água doce na Praia da Foz dos Ouriços.jpg

 

Seguimos para a Praia de Almograve, bastante mais conhecida e popular. Foi a praia em que estivemos mais cheia, mas mesmo assim encontrámos lugar, respeitando a distância entre chapéus. Com poucas rochas de um dos lados da praia, conseguimos ir à água com facilidade. Tem um envolvimento bonito, com água cor de esmeralda e um fácil acesso de carro. Ao lado, tem uma outra praia muito mais pequena mas igualmente linda.

 

Praia de Almograve.jpg

Pequena praia em Almograve.jpg

 

Depois de um almoço de rissóis e croquetes, partimos para Zambujeira do Mar. Já tínhamos estado as três nesta localidade e conhecíamos a Praia da Zambujeira do Mar, pelo que não a visitámos desta vez. No entanto, recomendo muito - é uma praia super agradável e bonita, que também faz parte das 7 Maravilhas - Praias de Portugal! 

Optámos por ir à Praia do Carvalhal. Com bastante espaço para estender a toalha, não deixa de ser uma praia intimista, rodeada em quase todos os lados por grandes rochedos, alguns cobertos pelo verde da vegetação. Perfeita para dar uns mergulhos e muito agradável.

 

Praia do Carvalhal.jpg

Praia do Carvalhal, Zambujeira do Mar.jpg

 

Mesmo depois da praia (ou antes, dependendo da direção por onde vem) existe um parque com animais - desde avestruzes a búfalos e zebras. Não sei o nome do parque, pois não encontrei nada sobre isso no Google Maps, mas é uma oportunidade de ver animais lindos e tirar umas fotos aos mesmos.

 

Avestruz.jpg

 

E chegamos à que foi, provavelmente, a minha praia favorita de todas. A Praia da Amália, anteriormente conhecida como Praia do Brejão, é simplesmente incrível. Só chegar lá já é uma peripécia, obrigando aqueles que a querem descobrir a passar por caminhos que são, aparentemente, duvidosos, mas que vão dar ao sítio certo! A passagem é estreita e faz lembrar uma selva, com lama no chão, um túnel feito de canas e raízes de árvores em tudo o quanto é sítio. O meu espírito aventureiro adorou cada segundo e, mesmo antes de ver a praia, já estava apaixonada por aquele local.

 

Acesso à Praia da Amália.jpg

 

A praia em si não desaponta, mesmo, mesmo nada. Situada entre montes, combina perfeitamente as paisagens marítima e fluvial num só local, com um riacho e uma cascata de água doce a complementar a típica praia de água salgada. Tem umas ruínas que também lhe dão muita graça, e mesmo juntinho à costa existe a Herdade Amália, comprada por, nem mais nem menos, a própria fadista Amália Rodrigues, que adorava passar férias naquela zona e frequentar a praia. E compreendo bem porquê - a praia é mesmo linda, especialmente por causa da cascata, que tem sempre uma curta fila para lá ir (tirar fotos ou só tomar banho), por ser tão popular.

 

Praia da Amália ao longe.jpg

Areal da Praia da Amália.jpg

Cascata da Praia da Amália.jpg

 

A quinta e última praia que visitámos nesse dia foi a Praia de Odeceixe, já em Faro. Este foi o ponto mais a sul a que fomos durante a viagem, e foi um sítio encantador para passar um bom final de dia. A praia é muito grande e tem um formato bastante diferente, sendo rodeada por mar por todos os lados exceto um, quase aparentando ser uma ilha. Gostei imenso e gostei também do que vi de Odeceixe, com as suas casinhas brancas, e o passeio inclinado até à praia. Esta foi uma das praias que me deu imensa vontade de voltar, principalmente com mais tempo para lá passar. É também outra das praias eleitas como 7 Maravilhas - Praias de Portugal.

A ideia era ver o pôr-do-sol, mas com toda a logística de ir jantar fora acabámos por ter apenas uns vislumbres deste fenómeno.

 

Praia de Odeceixe.jpg

Final de tarde na Praia de Odeceixe.jpg

Odeceixe.jpg

 

fork.png  Jantar

Bar da Praia - Com preços equivalentes ao que se espera de um restaurante à beira-mar, o Bar da Praia é caro mas é bom. Não tem muita variedade, e eu acabei por fazer uma má escolha - pedi uma salada de tomate e queijo de cabra, com cebola caramelizada, que era boa mas vinha em bastante pouca quantidade, principalmente para o preço que era - 9.80€. No entanto, a tosta mista alentejana e o caldo de lulas que as minhas amigas pediram estavam bons, e a nossa sobremesa, um brownie para cada, era delicioso.

 

Salada de tomate e queijo de cabra, Odeceixe.jpg

Brownie no Bar da Praia, Odeceixe.jpg

 

 

 

DIA 4

No último dia inteiro no sul, decidimos ir ver duas praias que nos faltavam e aproveitar para descansar antes da longa viagem que iríamos ter no dia seguinte. De manhã, fomos à Praia da Ilha do Pessegueiro, em Porto Covo. A ilha é bem mais perto do areal do que eu imaginava, o que dá bastante graça à praia. Super tranquila e bonita, é uma praia a não perder durante uma viagem pela Rota Vicentina!

 

Praia da Ilha do Pessegueiro.jpg

 

De tarde, fomos à Praia Grande de Porto Covo. Com um agradável bar de praia e o ocasional senhor das bolas de berlim, é uma boa praia para passar uma tarde - é vigiada, de fácil acesso de carro e não deixa de ser tão bela como as outras da zona.

 

Praia Grande, Porto Covo.jpg

 

 

 

 

E assim se termina uma viagem divertida e com algumas aventuras pelo meio. Gosto sempre de acampar e de estar no meio da natureza, para além de adorar roadtrips, por isso tinha grandes expectativas para esta descida (e subida) da costa. Não fiquei desapontada - Portugal tem mesmo praias incríveis, e não é preciso ir para o Algarve para as ver! A verdade é que fiquei em pulgas para completar a Rota Vicentina e ir de Aljezur a Sagres, tudo zonas que ainda não conheço. Se as suas praias forem tão bonitas como as que vi no Alentejo, tenho mesmo de começar a planear uma próxima viagem por lá!

 

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Costa Vicentina - Roteiro de 4 dias pelas praias a