Costa Vicentina // Roteiro de 4 dias pelas praias alentejanas
Toda a situação do COVID-19 e da quarentena resultou no cancelamento dos meus planos de viagem, como aconteceu com muita gente em todo o mundo. Ia visitar a Hungria, a Polónia e a Rússia, mas… chegou o vírus e tive de meter todos estes projetos de lado e regressar a casa, não sabendo bem quando iria explorar novos países novamente. Precisamente por causa desta incerteza, comecei a jogar pelo seguro e a pesquisar mais sobre potenciais viagens dentro do meu próprio país. Na minha procura, descobri vários sítios e rotas que me entusiasmaram bastante, aos quais eu nunca tinha dado a devida atenção, talvez porque muitas vezes acabo por me focar mais no que está lá fora e pouco no que tenho aqui tão perto. Uma destas ideias pareceu-me tão interessante que decidi realizá-la uns meses depois: a Rota Vicentina.
Foi encher o carro de tralha - tenda, colchão, mochila, comida - e partir à descoberta com mais duas amigas, tendo o GPS a ditar o caminho. Nos nossos calendários, tínhamos 4 noites disponíveis entre todas, e foi essa a duração da nossa viagem. Decidimos focar-nos na parte alentejana da costa vicentina para a conhecer bem e fazer menos kms, aproveitando mais as praias.
VIAGEM
Partimos de Coimbra. No geral, a viagem foi tranquila, mesmo com as estradas alentejanas sendo, por vezes, um pouco estreitas. No entanto, houve alguns caminhos que fizemos em que o carro estava a sofrer (e nós com ele), sendo o pior de todos o acesso para a Praia da Foz dos Ouriços, uma praia selvagem, situada em Almograve. Porém, tal como a maioria das praias mais escondidas, vale sem dúvida a pena e, na minha opinião, são estes sítios com menos gente que enriquecem a aventura!
ALOJAMENTO
Orbitur Sitava Milfontes - decidimos escolher a opção mais económica e acampar. Ficámos sempre neste parque por causa da curta duração da viagem e achámos que não valia a pena estar a desmontar e montar a tenda quando não iríamos sair muito daquela zona. O parque de campismo encontra-se ligeiramente a norte de Vila Nova de Milfontes, estando bastante bem situado. Com bastante sombra, é muito sossegado e agradável. As wc’s são aceitáveis e tem também uma piscina que parece ser muito boa, mas da qual nós não usufruímos. Dá para ir a pé até à Praia do Malhão, andando cerca de 12 minutos. A estadia para 4 noites ficou em mais ou menos 50€ por pessoa, incluindo uma tenda para as três, um carro e ainda eletricidade.
ITINERÁRIO
DIA 1
Saímos de Coimbra às 9h da manhã, pelo que chegámos à nossa primeira paragem, a Praia de São Torpes, às 12h. Ao sair do carro, a nossa primeira reação não foi muito positiva, devo confessar. A praia em si parece-se como uma outra qualquer, sem nada de especial, e aquilo que realmente se destaca é a central termoelétrica de Sines, que fica extremamente perto e não é, como devem imaginar, muito bonita.
Mas então, porque é que tanta gente começa a sua aventura pela costa vicentina precisamente nesta praia?
A verdade é que São Torpes tem algo de incrível que pode passar despercebido a quem ficar apenas pelo areal - a temperatura da água. Porque a razão pela qual a praia tem um cenário industrial é precisamente a razão pela qual a sua água chega a estar a 30ºC - a central expele as águas de arrefecimento para aquela área, fazendo com que nem os mais friorentos consigam resistir a tomar banho com aquelas temperaturas tropicais. A praia tem bandeira azul, pelo que não tem poluição, apesar da água ser aquecido por um processo artificial.
Naquele dia o mar estava mesmo ótimo, o que fez com que, no final de contas, ficássemos com uma ótima impressão daquela praia! Tanto que, no último dia, a caminho de Coimbra, optámos por lá voltar - e, infelizmente, descobrimos que nem sempre a água está àquela temperatura, e que há locais específicos da praia para poder usufruir das correntes quentes. De qualquer maneira, recomendo São Torpes, principalmente quando está maré baixa, que é quando mais se sente o quentinho da água!
De seguida, fomos para a Praia da Samoqueira, a 8 minutos de carro da anterior. Com grande contraste relativamente a São Torpes, a Samoqueira é, sem dúvida alguma, uma das praias mais lindas que já vi na minha vida. A cor da água é espetacular e a sua limpidez surpreendente. Há uma zona que parece quase uma lagoa, rodeada de rochas, algumas com musgo verde, para combinar com a cor do mar. É uma praia mesmo… espetacular, com uma beleza natural estonteante. Nem as fotos lhe fazem justiça - é daqueles lugares que deixam qualquer um de boca aberta. É uma das minhas praias favoritas desta viagem e, para dizer a verdade, de sempre! E se ainda precisam de provas em como Portugal tem recantos tão lindos como qualquer outra parte do mundo, aqui têm uma completamente irrefutável.
Para terminar o dia, e depois de deixarmos a tenda montada no parque de campismo, fomos passear por Porto Covo. Com casas brancas e azuis, todas a combinar, é um destino muito giro e agradável. O que também ajuda a embelezar a localidade são as suas praias e miradouros para as mesmas. Como era já final de tarde, optámos por não descer para os areais e apreciar tudo de cima. Muito pequenas e intimistas, com uma água esverdeada, todas elas eram muito bonitas. A paisagem naquela zona é linda, cheia de rochas e vegetação própria das praias do sul de Portugal. Toda aquela natureza em volta inspira muito sossego e adorei isso. As praias que vimos foram a Praia dos Buizinhos, a Praia Pequena, a Praia da Gaivota e a Praia do Banho.
DIA 2
Infelizmente, o tempo não esteve do nosso lado neste dia. Não estava propriamente frio, mas andámos quase sempre de casaco e o sol manteve-se escondido por detrás das nuvens. Assim, decidimos ter um dia mais sossegado, e passámos a manhã na Praia do Malhão, mesmo junto ao nosso parque de campismo.
Por causa do céu carregado, tivemos a praia quase toda para nós. Apesar das condições atmosféricas não serem as melhores, e até de termos sentido umas pingas enquanto jogávamos raquetes, penso que deu para apreciar a beleza daquela grande praia, principalmente do topo das falésias, pois lá consegue-se ter vistas panorâmicas muito boas.
Depois do almoço, fomos rumo a sul, à Praia das Furnas. Esta é uma praia de aspeto um pouco mais comum, com um extenso areal, mas muito agradável, com algumas grutas e pedras que embelezam o local. É uma das eleitas como 7 Maravilhas - Praias de Portugal e é também, apesar de não o parecer, uma praia fluvial, com fortes influências marítimas. Deste local, consegue-se ver as praias do outro lado do rio Mira - a Praia do Farol e a Praia da Franquia. Mais uma vez, por causa do tempo, a praia encontrava-se bastante deserta e tranquila.
Para terminar a tarde, e quando o céu começou a abrir um bocadinho, decidimos ir comer um gelado a Vila Nova de Milfontes. Achar estacionamento foi complicado - esta localidade encontra-se bastante na moda, aparentemente, e estava cheia de gente e de vida.
Lanche
Geladaria San Pietro - Mais uma vez o TripAdvisor não me deixou ficar mal e levou-nos a uma gelataria ótima, com crepes e gelados saborosos! Pedi gelado de mirtilo e estava incrível. As minhas amigas também gostaram dos crepes de chocolate branco e de chocolate preto e morangos. Recomendo - foi um final de tarde delicioso.
DIA 3
Este foi o meu dia favorito - estava muito sol e fomos para sul. A primeira paragem foi a Praia da Foz dos Ouriços, uma praia bastante escondida em Almograve. O trilho não está muito marcado, mas dá para chegar ao areal sem grandes dificuldades, depois de deixar o carro numa clareira pequena, a que o GPS nos levou. A praia é muito selvagem e isso fá-la ainda mais bonita. Com pouca gente por causa do acesso mais complexo, a praia tem água doce assim como água salgada, o que a torna singular. Tem muita vegetação e imensas rochas, o que dificulta ir à água, mas contribui para a beleza da Foz dos Ouriços. Não ficámos muito tempo, principalmente porque tínhamos muitas praias para ver nesse dia e porque queríamos ir tomar um banho no mar, mas esta praia vai ficar sem dúvida na minha memória como uma das praias mais únicas e bonitas da minha viagem. Vale a pena visitar, nem que seja simplesmente para se ver um exemplo de um tesouro escondido da Costa Vicentina.
Seguimos para a Praia de Almograve, bastante mais conhecida e popular. Foi a praia em que estivemos mais cheia, mas mesmo assim encontrámos lugar, respeitando a distância entre chapéus. Com poucas rochas de um dos lados da praia, conseguimos ir à água com facilidade. Tem um envolvimento bonito, com água cor de esmeralda e um fácil acesso de carro. Ao lado, tem uma outra praia muito mais pequena mas igualmente linda.
Depois de um almoço de rissóis e croquetes, partimos para Zambujeira do Mar. Já tínhamos estado as três nesta localidade e conhecíamos a Praia da Zambujeira do Mar, pelo que não a visitámos desta vez. No entanto, recomendo muito - é uma praia super agradável e bonita, que também faz parte das 7 Maravilhas - Praias de Portugal!
Optámos por ir à Praia do Carvalhal. Com bastante espaço para estender a toalha, não deixa de ser uma praia intimista, rodeada em quase todos os lados por grandes rochedos, alguns cobertos pelo verde da vegetação. Perfeita para dar uns mergulhos e muito agradável.
Mesmo depois da praia (ou antes, dependendo da direção por onde vem) existe um parque com animais - desde avestruzes a búfalos e zebras. Não sei o nome do parque, pois não encontrei nada sobre isso no Google Maps, mas é uma oportunidade de ver animais lindos e tirar umas fotos aos mesmos.
E chegamos à que foi, provavelmente, a minha praia favorita de todas. A Praia da Amália, anteriormente conhecida como Praia do Brejão, é simplesmente incrível. Só chegar lá já é uma peripécia, obrigando aqueles que a querem descobrir a passar por caminhos que são, aparentemente, duvidosos, mas que vão dar ao sítio certo! A passagem é estreita e faz lembrar uma selva, com lama no chão, um túnel feito de canas e raízes de árvores em tudo o quanto é sítio. O meu espírito aventureiro adorou cada segundo e, mesmo antes de ver a praia, já estava apaixonada por aquele local.
A praia em si não desaponta, mesmo, mesmo nada. Situada entre montes, combina perfeitamente as paisagens marítima e fluvial num só local, com um riacho e uma cascata de água doce a complementar a típica praia de água salgada. Tem umas ruínas que também lhe dão muita graça, e mesmo juntinho à costa existe a Herdade Amália, comprada por, nem mais nem menos, a própria fadista Amália Rodrigues, que adorava passar férias naquela zona e frequentar a praia. E compreendo bem porquê - a praia é mesmo linda, especialmente por causa da cascata, que tem sempre uma curta fila para lá ir (tirar fotos ou só tomar banho), por ser tão popular.
A quinta e última praia que visitámos nesse dia foi a Praia de Odeceixe, já em Faro. Este foi o ponto mais a sul a que fomos durante a viagem, e foi um sítio encantador para passar um bom final de dia. A praia é muito grande e tem um formato bastante diferente, sendo rodeada por mar por todos os lados exceto um, quase aparentando ser uma ilha. Gostei imenso e gostei também do que vi de Odeceixe, com as suas casinhas brancas, e o passeio inclinado até à praia. Esta foi uma das praias que me deu imensa vontade de voltar, principalmente com mais tempo para lá passar. É também outra das praias eleitas como 7 Maravilhas - Praias de Portugal.
A ideia era ver o pôr-do-sol, mas com toda a logística de ir jantar fora acabámos por ter apenas uns vislumbres deste fenómeno.
Jantar
Bar da Praia - Com preços equivalentes ao que se espera de um restaurante à beira-mar, o Bar da Praia é caro mas é bom. Não tem muita variedade, e eu acabei por fazer uma má escolha - pedi uma salada de tomate e queijo de cabra, com cebola caramelizada, que era boa mas vinha em bastante pouca quantidade, principalmente para o preço que era - 9.80€. No entanto, a tosta mista alentejana e o caldo de lulas que as minhas amigas pediram estavam bons, e a nossa sobremesa, um brownie para cada, era delicioso.
DIA 4
No último dia inteiro no sul, decidimos ir ver duas praias que nos faltavam e aproveitar para descansar antes da longa viagem que iríamos ter no dia seguinte. De manhã, fomos à Praia da Ilha do Pessegueiro, em Porto Covo. A ilha é bem mais perto do areal do que eu imaginava, o que dá bastante graça à praia. Super tranquila e bonita, é uma praia a não perder durante uma viagem pela Rota Vicentina!
De tarde, fomos à Praia Grande de Porto Covo. Com um agradável bar de praia e o ocasional senhor das bolas de berlim, é uma boa praia para passar uma tarde - é vigiada, de fácil acesso de carro e não deixa de ser tão bela como as outras da zona.
E assim se termina uma viagem divertida e com algumas aventuras pelo meio. Gosto sempre de acampar e de estar no meio da natureza, para além de adorar roadtrips, por isso tinha grandes expectativas para esta descida (e subida) da costa. Não fiquei desapontada - Portugal tem mesmo praias incríveis, e não é preciso ir para o Algarve para as ver! A verdade é que fiquei em pulgas para completar a Rota Vicentina e ir de Aljezur a Sagres, tudo zonas que ainda não conheço. Se as suas praias forem tão bonitas como as que vi no Alentejo, tenho mesmo de começar a planear uma próxima viagem por lá!
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