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Bora lá Viajar!

"Traveling – it leaves you speechless, then turns you into a storyteller"

Seg | 31.08.20

Suécia // O inverno num país nórdico

Joana Lameiras

Neve em Estocolmo.jpg

 

Quem me conhece e foi falando comigo ao longo dos meses em que vivi e estudei na Suécia, sabe que uma das coisas de que senti mais saudades foi do sol. Cheguei a Estocolmo em Agosto e saí em Março, pelo que passei lá o inverno todo, todinho. Isto significa que vi bastante neve, pude patinar no gelo várias vezes e até tive a oportunidade de ir à lapónia sueca, a terra do Pai Natal! Maaaas… também significa que tive dias da minha vida em que às 15h era completamente de noite, passava semanas sem ver um bocadinho de sol e a minha pesquisa mais frequente no google era “stockholm daylight hours”.

Não vou mentir, foi complicado. Investiguei bastante sobre isto antes de me mudar porque já desconfiava que as poucas horas de luz me iriam fritar um bocado o cérebro, não fosse eu o tipo de pessoa cujo humor muda consoante o tempo que está. No entanto, não há nenhuma quantidade de pesquisa que me pudesse preparar realmente para aquilo que é passar os meses de Novembro, Dezembro e Janeiro na Suécia. Eu vivi em Estocolmo, que nem sequer é no norte do país, pelo que até me posso considerar sortuda, pois sei que na lapónia há dias do ano em que a diferença entre o dia e a noite é quase nula. Mesmo assim, passar o inverno em Estocolmo e passar o inverno em Coimbra, de onde sou, são coisas muito, muito distintas.

Eu sempre fui uma pessoa muito diurna. Gosto de me levantar cedo, aproveitar o dia, e relaxar assim que o sol se começa a pôr. Tenho esta rotina e este hábito há muitos anos. Nunca fui de estudar de noite e não o faço se o puder evitar. Ora, tudo isto encaixa super bem com o inverno nórdico, certo? Errado. Embora os suecos tenham o hábito de se levantar extremamente cedo, o sol só nascia às 8h da manhã, pelo que não havia muita razão, a não ser que tivesse aulas, para eu me levantar antes dessa hora. E existiram dias em que isso aconteceu - levantava-me bem antes do sol nascer porque me tinha de deslocar para outro campus às 7h da manhã. Houve também alturas, especialmente em Dezembro, em que estava eu a acabar de almoçar e era quase de noite. Às vezes ainda nem tinha começado as aulas do dia e o céu já estava completamente escuro. Era uma coisa que me fazia bastante impressão, porque eu sentia que o meu dia de trabalho já tinha terminado, visto que era de noite, e no entanto lá tinha eu de ir para a biblioteca estudar porque eram apenas 14h30.

É uma questão de hábito, e eventualmente acostumei-me, mas senti sempre muita falta da luz solar e, embora estivesse a tomar vitamina D como grande parte das pessoas, senti que aquela escuridão toda me afetava imenso o estado de espírito. Aliás, praticamente todos os meus amigos estrangeiros se queixavam do mesmo, especialmente aqueles que, como eu, tinham vindo de um país com um clima muito distinto. Tudo o que era portugueses, espanhóis, italianos e mexicanos, por exemplo, diziam sentir-se bastante mais tristes com os dias curtos e o frio cortante.

 

Geada em Estocolmo.jpg

 

“Quando deixamos de ter uma coisa é que lhe damos o verdadeiro valor” - nunca concordei tanto com esta frase como quando estive aqueles meses escuros em Estocolmo. Mas isto também significa que quando voltamos a ter aquilo que perdemos, o seu valor é acrescido por 200%. O que quer dizer que, quando houve um grande nevão pela primeira vez em Estocolmo e eu acordei com uma mensagem de uma amiga minha para olhar pela janela e vi tudo, tudo branco… comecei a saltar para cima e para baixo sem parar de tanto entusiasmo. Nunca tinha visto tanta neve na vida e era lindo. Mas a melhor parte mesmo é que a neve tem uma grande capacidade refletora da luz e o dia estava brilhante e claro, especialmente quando comparado com as semanas anteriores, muito negras e tristes.

Nesse dia não consegui parar de sorrir. Tirei mais de 1000 fotografias, só no meu campus e na floresta adjacente! Tudo era fascinante e belo para mim e foi um dos meus dias favoritos que passei na Suécia. Felizmente, não foi o único assim e tive bastantes oportunidades ao longo dos meses de brincar na neve (e de apanhar constipações).

 

Banco cheio de neve em Estocolmo.jpg

Sol e neve em Estocolmo.jpg

Parque coberto de neve em Estocolmo.jpg

 

O inverno de 2019/2020 foi um dos mais brandos na Suécia dos últimos tempos. Para mim, como estou habituada a dias de inverno de 13ºC, foi uma época bastante fria e rigorosa, mas nada que um bom casaco, luvas e gorro não resolvam. O frio é algo a que me habituei rápido, principalmente porque os aquecimentos nas casas e nos estabelecimentos da cidade são muito bons, e ninguém passa muito tempo na rua quando estão -2ºC.

Viver na Suécia durante o inverno permitiu-me patinar no gelo, algo que adorei. O acesso aos ringues de gelo é gratuito, alugando-se apenas os patins, pelo que havia muita gente a comprar o seu próprio par, o que acabava por compensar, caso patinassem com alguma regularidade. Tive a oportunidade de experimentar dois tipos de patinagem: a speed skating, utilizada com patins longos, em que o nosso próprio sapato se encaixa num suporte na lâmina, e a patinagem mais habitual, com os clássicos patins que todos conhecemos. Gostei de ambas as modalidades e, apesar de não ter tanta habilidade como os miúdos suecos de 7 anos que lá andam a fazer piruetas de meter inveja, acho que não me safei mal - só caí uma vez!

 

Speed skating em Estocolmo.jpg

Ringue de gelo em Estocolmo.jpg

 

Também tive a oportunidade de ver outros a patinar no gelo - mais especificamente, ver um jogo de hóquei no gelo! Eram equipas locais, um jogo entre a equipa da minha universidade e a equipa de outra. Esta foi uma experiência muito gira - o ambiente é super vibrante e há música sempre que alguém marca. Morri de frio porque são várias horas em que uma pessoa está parada e eu não pensei nisso atempadamente. Chegou ao ponto de já não sentir os meus pés!

 

Hóquei no gelo em Estocolmo.jpg

 

Ir aos mercados de natal é algo imperdível se passarem pelo norte da Europa nessa época. Tive a oportunidade de visitar dois em Estocolmo - um em Gamla Stan, que costuma estar muito cheio, e um em Djurgården, que é um pouco diferente do que estou habituada a ver e muito, muito bonito. Apesar dos preços um bocadinho elevados, são sítios acolhedores e perfeitos para beber vinho quente (mulled wine) - que é delicioso! - ou comprar um enfeite de natal único. Para além disto, existem também as luzes de natal que embelezam Estocolmo e são mesmo espetaculares.

 

Mercado de natal em Djurgården, Estocolmo.jpg

Luzes de natal em Estocolmo.jpg

 

Passar o inverno num país nórdico é uma experiência única. Não a repetiria tão cedo, pois a falta de luz solar foi mesmo chocante e prefiro os invernos amenos deste lado da Europa. No entanto, foi sem dúvida uma aventura com imensos aspetos positivos, que me permitiu fazer coisas que nunca tinha feito na vida - e experimentar algo novo é exatamente a razão pela qual embarquei nesta viagem!

 

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Suécia - O inverno num país nórdico.png