Quem me conhece e foi falando comigo ao longo dos meses em que vivi e estudei na Suécia, sabe que uma das coisas de que senti mais saudades foi do sol. Cheguei a Estocolmo em Agosto e saí em Março, pelo que passei lá o inverno todo, todinho. Isto significa que vi bastante neve, pude patinar no gelo várias vezes e até tive a oportunidade de ir à lapónia sueca, a terra do Pai Natal! Maaaas… também significa que tive dias da minha vida em que às 15h era completamente de noite, passava semanas sem ver um bocadinho de sol e a minha pesquisa mais frequente no google era “stockholm daylight hours”.
Não vou mentir, foi complicado. Investiguei bastante sobre isto antes de me mudar porque já desconfiava que as poucas horas de luz me iriam fritar um bocado o cérebro, não fosse eu o tipo de pessoa cujo humor muda consoante o tempo que está. No entanto, não há nenhuma quantidade de pesquisa que me pudesse preparar realmente para aquilo que é passar os meses de Novembro, Dezembro e Janeiro na Suécia. Eu vivi em Estocolmo, que nem sequer é no norte do país, pelo que até me posso considerar sortuda, pois sei que na lapónia há dias do ano em que a diferença entre o dia e a noite é quase nula. Mesmo assim, passar o inverno em Estocolmo e passar o inverno em Coimbra, de onde sou, são coisas muito, muito distintas.
Eu sempre fui uma pessoa muito diurna. Gosto de me levantar cedo, aproveitar o dia, e relaxar assim que o sol se começa a pôr. Tenho esta rotina e este hábito há muitos anos. Nunca fui de estudar de noite e não o faço se o puder evitar. Ora, tudo isto encaixa super bem com o inverno nórdico, certo? Errado. Embora os suecos tenham o hábito de se levantar extremamente cedo, o sol só nascia às 8h da manhã, pelo que não havia muita razão, a não ser que tivesse aulas, para eu me levantar antes dessa hora. E existiram dias em que isso aconteceu - levantava-me bem antes do sol nascer porque me tinha de deslocar para outro campus às 7h da manhã. Houve também alturas, especialmente em Dezembro, em que estava eu a acabar de almoçar e era quase de noite. Às vezes ainda nem tinha começado as aulas do dia e o céu já estava completamente escuro. Era uma coisa que me fazia bastante impressão, porque eu sentia que o meu dia de trabalho já tinha terminado, visto que era de noite, e no entanto lá tinha eu de ir para a biblioteca estudar porque eram apenas 14h30.
É uma questão de hábito, e eventualmente acostumei-me, mas senti sempre muita falta da luz solar e, embora estivesse a tomar vitamina D como grande parte das pessoas, senti que aquela escuridão toda me afetava imenso o estado de espírito. Aliás, praticamente todos os meus amigos estrangeiros se queixavam do mesmo, especialmente aqueles que, como eu, tinham vindo de um país com um clima muito distinto. Tudo o que era portugueses, espanhóis, italianos e mexicanos, por exemplo, diziam sentir-se bastante mais tristes com os dias curtos e o frio cortante.
“Quando deixamos de ter uma coisa é que lhe damos o verdadeiro valor” - nunca concordei tanto com esta frase como quando estive aqueles meses escuros em Estocolmo. Mas isto também significa que quando voltamos a ter aquilo que perdemos, o seu valor é acrescido por 200%. O que quer dizer que, quando houve um grande nevão pela primeira vez em Estocolmo e eu acordei com uma mensagem de uma amiga minha para olhar pela janela e vi tudo, tudo branco… comecei a saltar para cima e para baixo sem parar de tanto entusiasmo. Nunca tinha visto tanta neve na vida e era lindo. Mas a melhor parte mesmo é que a neve tem uma grande capacidade refletora da luz e o dia estava brilhante e claro, especialmente quando comparado com as semanas anteriores, muito negras e tristes.
Nesse dia não consegui parar de sorrir. Tirei mais de 1000 fotografias, só no meu campus e na floresta adjacente! Tudo era fascinante e belo para mim e foi um dos meus dias favoritos que passei na Suécia. Felizmente, não foi o único assim e tive bastantes oportunidades ao longo dos meses de brincar na neve (e de apanhar constipações).
O inverno de 2019/2020 foi um dos mais brandos na Suécia dos últimos tempos. Para mim, como estou habituada a dias de inverno de 13ºC, foi uma época bastante fria e rigorosa, mas nada que um bom casaco, luvas e gorro não resolvam. O frio é algo a que me habituei rápido, principalmente porque os aquecimentos nas casas e nos estabelecimentos da cidade são muito bons, e ninguém passa muito tempo na rua quando estão -2ºC.
Viver na Suécia durante o inverno permitiu-me patinar no gelo, algo que adorei. O acesso aos ringues de gelo é gratuito, alugando-se apenas os patins, pelo que havia muita gente a comprar o seu próprio par, o que acabava por compensar, caso patinassem com alguma regularidade. Tive a oportunidade de experimentar dois tipos de patinagem: a speed skating, utilizada com patins longos, em que o nosso próprio sapato se encaixa num suporte na lâmina, e a patinagem mais habitual, com os clássicos patins que todos conhecemos. Gostei de ambas as modalidades e, apesar de não ter tanta habilidade como os miúdos suecos de 7 anos que lá andam a fazer piruetas de meter inveja, acho que não me safei mal - só caí uma vez!
Também tive a oportunidade de ver outros a patinar no gelo - mais especificamente, ver um jogo de hóquei no gelo! Eram equipas locais, um jogo entre a equipa da minha universidade e a equipa de outra. Esta foi uma experiência muito gira - o ambiente é super vibrante e há música sempre que alguém marca. Morri de frio porque são várias horas em que uma pessoa está parada e eu não pensei nisso atempadamente. Chegou ao ponto de já não sentir os meus pés!
Ir aos mercados de natal é algo imperdível se passarem pelo norte da Europa nessa época. Tive a oportunidade de visitar dois em Estocolmo - um em Gamla Stan, que costuma estar muito cheio, e um em Djurgården, que é um pouco diferente do que estou habituada a ver e muito, muito bonito. Apesar dos preços um bocadinho elevados, são sítios acolhedores e perfeitos para beber vinho quente (mulled wine) - que é delicioso! - ou comprar um enfeite de natal único. Para além disto, existem também as luzes de natal que embelezam Estocolmo e são mesmo espetaculares.
Passar o inverno num país nórdico é uma experiência única. Não a repetiria tão cedo, pois a falta de luz solar foi mesmo chocante e prefiro os invernos amenos deste lado da Europa. No entanto, foi sem dúvida uma aventura com imensos aspetos positivos, que me permitiu fazer coisas que nunca tinha feito na vida - e experimentar algo novo é exatamente a razão pela qual embarquei nesta viagem!
Este post é um bocadinho diferente do habitual. Hoje, não vou falar de roteiros ou dar dicas de viagem - em vez disso, quero partilhar uma experiência que mudou a minha vida: a experiência de mudar de casa e de país pela primeira vez.
Em Maio de 2019, foi-me oferecida a oportunidade de estudar um ano em Estocolmo, na Suécia, numa das melhores universidades de tecnologia da Europa, a KTH. Tinha-me candidatado uns meses antes, assim um bocadinho à toa porque não sabia bem o que queria estudar. Passadas umas semanas de ter entregue a minha candidatura, um outro plano começou a formar-se na minha mente: o de fazer um gap year. Isto era exatamente o que eu achava que precisava - era a oportunidade perfeita para viajar e trabalhar em diversos campos, e eu julgava que me ia ajudar a perceber o que realmente queria fazer da vida.
Estava no processo de planear este ano sabático, quando recebi aquele e-mail que me alterou todos os planos: não só tinha sido aceite para o programa, como tinha também ganho uma bolsa que me iria cobrir as despesas de viver no país tão caro que é a Suécia. Por muito que me entusiasmasse fazer o meu gap year, eu sabia que esta era uma oportunidade única, e acabei por aceitar a proposta. Não sabia se ia gostar das cadeiras, não sabia se ia gostar da Suécia, mas a única maneira de descobrir era ir, e fui.
A experiência foi longe de ser perfeita. Acho que nenhuma nunca o é e mudar de casa, especialmente para um país do outro lado da Europa, não foi fácil para mim, que sempre vivi em Coimbra com a minha família.
Antes de fazer esta grande mudança, tinha amigas que já tinham feito Erasmus, e falavam maravilhas da sua aventura. Tinham adorado, tinham-se fartado de viajar, a maior parte pouco tinha estudado e parecia que só existiam pontos positivos em viver uma temporada no estrangeiro. Para mim, nunca tinha havido dúvidas de que queria estudar lá fora, e este sentimento foi apenas reforçado após ouvir as histórias destas minhas amigas e o quanto tinham gostado.
Esta foi uma das razões pela qual, no início, sentia que estava a fazer algo de errado, que alguma coisa não estava bem, porque me sentia desamparada e completamente só. Afinal de contas, se os outros adoraram a experiência, porque não haveria eu, que ainda por cima sempre quis isto, de adorar também?
E a verdade é que eu estava a gostar de certas partes: conhecer pessoas de todo o mundo, fazer novos amigos, aprender mais sobre a cultura sueca, explorar os recantos de Estocolmo, ter a minha independência - até ir às compras ao Lidl eu achava piada. No fundo, a única coisa da qual eu profundamente não gostava era de chegar a casa, no final do dia, e estar, na maior parte das vezes, sozinha. Estava muito habituada a ter sempre a companhia da minha família e amigos, e perder isso custou-me muito no primeiro mês. Os primeiros tempos foram um grande choque e senti-me muito overwhelmed, eram tantas as novas experiências e desafios: tentar perceber onde eram os diferentes campus, orientar-me no metro, fazer compras de comida não percebendo patavina de sueco, habituar-me à moeda sueca, falar todo o dia inglês… entre muitos outros.
Na primeira semana, tive muitas dúvidas. Passava horas ao telefone com a minha mãe, a refletir sobre se tinha feito a decisão certa em vir. Mas lentamente, à medida que o tempo passava e eu me ia habituando à minha nova rotina, à minha nova casa e aos meus novos colegas, fui-me apercebendo que não há, de facto, uma decisão certa. Foi só uma decisão, sem certo nem errado, e depende de mim tirar o melhor da mesma. Esta mudança de mindset foi muito importante para me começar a sentir melhor e mais confortável. Comecei a perceber que não havia problema em estar a ter uma experiência com dificuldades, porque sabia que iria aprender muito precisamente por causa destas dificuldades.
E toda a gente que vai estudar fora passa por diferentes obstáculos e vai com diferentes condições. Algumas pessoas vão sozinhas, outras com pessoal conhecido, umas ficam só um semestre, outras mais tempo, umas fazem um programa de intercâmbio, outras um curso inteiro. Umas são assaltadas, outras nem casa têm quando chegam ao país, umas fartam-se de estudar e outras mal pegam nos livros.
Todas as experiências são diferentes e todas têm momentos baixos e momentos altos. É claro que uma pessoa entra mais confortavelmente nesta aventura se for com amigos, tal como há mais probabilidade de uma pessoa que vai sozinha criar laços mais fortes com outros que estão sozinhos do que uma pessoa que for acompanhada. Acho que o mais importante é não esquecer isso - que até o pessoal que mete insta stories a torto e a direito e que passa a impressão de que tem a vida perfeita, também tem momentos de solidão ou de ansiedade ou de saudades. É natural!
Percebo também porque é que as pessoas escolhem enaltecer toda esta experiência e falar maioritariamente dos momentos bons - porque realmente são muito bons e ultrapassam bastante os maus! Para mim foi assim, e acabei por adorar a experiência. Cresci imenso, aprendi mais sobre mim, fui forçada a sair da minha zona de conforto e apercebi-me que não custa assim tanto. Conheci pessoal incrível, visitei sítios lindos, provei comida deliciosa de todos os cantos do mundo e aprendi a chamar Estocolmo de “uma segunda casa”. E os momentos maus existiram, e foram difíceis de ultrapassar. Não só a solidão, mas também a falta de sol no inverno, o facto de não gostar de muitas das minhas cadeiras e as saudades doidas que tinha dos meus, que ficaram em Portugal. Durante as semanas anteriores a regressar a casa, sonhava com a minha reunião com a minha família, com os meus amigos. Mas, é curioso - quando realmente a experiência acabou e eu regressei para não mais voltar, o que mais sentia era saudades e uma vontade enorme de levar lá todos os meus amigos para poder partilhar com eles este pedacinho do mundo que vai fazer, para sempre, parte de mim.
Toda a situação do COVID-19 e da quarentena resultou no cancelamento dos meus planos de viagem, como aconteceu com muita gente em todo o mundo. Ia visitar a Hungria, a Polónia e a Rússia, mas… chegou o vírus e tive de meter todos estes projetos de lado e regressar a casa, não sabendo bem quando iria explorar novos países novamente. Precisamente por causa desta incerteza, comecei a jogar pelo seguro e a pesquisar mais sobre potenciais viagens dentro do meu próprio país. Na minha procura, descobri vários sítios e rotas que me entusiasmaram bastante, aos quais eu nunca tinha dado a devida atenção, talvez porque muitas vezes acabo por me focar mais no que está lá fora e pouco no que tenho aqui tão perto. Uma destas ideias pareceu-me tão interessante que decidi realizá-la uns meses depois: a Rota Vicentina.
Foi encher o carro de tralha - tenda, colchão, mochila, comida - e partir à descoberta com mais duas amigas, tendo o GPS a ditar o caminho. Nos nossos calendários, tínhamos 4 noites disponíveis entre todas, e foi essa a duração da nossa viagem. Decidimos focar-nos na parte alentejana da costa vicentina para a conhecer bem e fazer menos kms, aproveitando mais as praias.
VIAGEM
Partimos de Coimbra. No geral, a viagem foi tranquila, mesmo com as estradas alentejanas sendo, por vezes, um pouco estreitas. No entanto, houve alguns caminhos que fizemos em que o carro estava a sofrer (e nós com ele), sendo o pior de todos o acesso para a Praia da Foz dos Ouriços, uma praia selvagem, situada em Almograve. Porém, tal como a maioria das praias mais escondidas, vale sem dúvida a pena e, na minha opinião, são estes sítios com menos gente que enriquecem a aventura!
ALOJAMENTO
Orbitur Sitava Milfontes - decidimos escolher a opção mais económica e acampar. Ficámos sempre neste parque por causa da curta duração da viagem e achámos que não valia a pena estar a desmontar e montar a tenda quando não iríamos sair muito daquela zona. O parque de campismo encontra-se ligeiramente a norte de Vila Nova de Milfontes, estando bastante bem situado. Com bastante sombra, é muito sossegado e agradável. As wc’s são aceitáveis e tem também uma piscina que parece ser muito boa, mas da qual nós não usufruímos. Dá para ir a pé até à Praia do Malhão, andando cerca de 12 minutos. A estadia para 4 noites ficou em mais ou menos 50€ por pessoa, incluindo uma tenda para as três, um carro e ainda eletricidade.
ITINERÁRIO
DIA 1
Saímos de Coimbra às 9h da manhã, pelo que chegámos à nossa primeira paragem, a Praia de São Torpes, às 12h. Ao sair do carro, a nossa primeira reação não foi muito positiva, devo confessar. A praia em si parece-se como uma outra qualquer, sem nada de especial, e aquilo que realmente se destaca é a central termoelétrica de Sines, que fica extremamente perto e não é, como devem imaginar, muito bonita.
Mas então, porque é que tanta gente começa a sua aventura pela costa vicentina precisamente nesta praia?
A verdade é que São Torpes tem algo de incrível que pode passar despercebido a quem ficar apenas pelo areal - a temperatura da água. Porque a razão pela qual a praia tem um cenário industrial é precisamente a razão pela qual a sua água chega a estar a 30ºC - a central expele as águas de arrefecimento para aquela área, fazendo com que nem os mais friorentos consigam resistir a tomar banho com aquelas temperaturas tropicais. A praia tem bandeira azul, pelo que não tem poluição, apesar da água ser aquecido por um processo artificial.
Naquele dia o mar estava mesmo ótimo, o que fez com que, no final de contas, ficássemos com uma ótima impressão daquela praia! Tanto que, no último dia, a caminho de Coimbra, optámos por lá voltar - e, infelizmente, descobrimos que nem sempre a água está àquela temperatura, e que há locais específicos da praia para poder usufruir das correntes quentes. De qualquer maneira, recomendo São Torpes, principalmente quando está maré baixa, que é quando mais se sente o quentinho da água!
De seguida, fomos para a Praia da Samoqueira, a 8 minutos de carro da anterior. Com grande contraste relativamente a São Torpes, a Samoqueira é, sem dúvida alguma, uma das praias mais lindas que já vi na minha vida. A cor da água é espetacular e a sua limpidez surpreendente. Há uma zona que parece quase uma lagoa, rodeada de rochas, algumas com musgo verde, para combinar com a cor do mar. É uma praia mesmo… espetacular, com uma beleza natural estonteante. Nem as fotos lhe fazem justiça - é daqueles lugares que deixam qualquer um de boca aberta. É uma das minhas praias favoritas desta viagem e, para dizer a verdade, de sempre! E se ainda precisam de provas em como Portugal tem recantos tão lindos como qualquer outra parte do mundo, aqui têm uma completamente irrefutável.
Para terminar o dia, e depois de deixarmos a tenda montada no parque de campismo, fomos passear por Porto Covo. Com casas brancas e azuis, todas a combinar, é um destino muito giro e agradável. O que também ajuda a embelezar a localidade são as suas praias e miradouros para as mesmas. Como era já final de tarde, optámos por não descer para os areais e apreciar tudo de cima. Muito pequenas e intimistas, com uma água esverdeada, todas elas eram muito bonitas. A paisagem naquela zona é linda, cheia de rochas e vegetação própria das praias do sul de Portugal. Toda aquela natureza em volta inspira muito sossego e adorei isso. As praias que vimos foram a Praia dos Buizinhos, a Praia Pequena, a Praia da Gaivota e a Praia do Banho.
DIA 2
Infelizmente, o tempo não esteve do nosso lado neste dia. Não estava propriamente frio, mas andámos quase sempre de casaco e o sol manteve-se escondido por detrás das nuvens. Assim, decidimos ter um dia mais sossegado, e passámos a manhã na Praia do Malhão, mesmo junto ao nosso parque de campismo.
Por causa do céu carregado, tivemos a praia quase toda para nós. Apesar das condições atmosféricas não serem as melhores, e até de termos sentido umas pingas enquanto jogávamos raquetes, penso que deu para apreciar a beleza daquela grande praia, principalmente do topo das falésias, pois lá consegue-se ter vistas panorâmicas muito boas.
Depois do almoço, fomos rumo a sul, à Praia das Furnas. Esta é uma praia de aspeto um pouco mais comum, com um extenso areal, mas muito agradável, com algumas grutas e pedras que embelezam o local. É uma das eleitas como 7 Maravilhas - Praias de Portugal e é também, apesar de não o parecer, uma praia fluvial, com fortes influências marítimas. Deste local, consegue-se ver as praias do outro lado do rio Mira - a Praia do Farol e a Praia da Franquia. Mais uma vez, por causa do tempo, a praia encontrava-se bastante deserta e tranquila.
Para terminar a tarde, e quando o céu começou a abrir um bocadinho, decidimos ir comer um gelado a Vila Nova de Milfontes. Achar estacionamento foi complicado - esta localidade encontra-se bastante na moda, aparentemente, e estava cheia de gente e de vida.
Lanche
Geladaria San Pietro - Mais uma vez o TripAdvisor não me deixou ficar mal e levou-nos a uma gelataria ótima, com crepes e gelados saborosos! Pedi gelado de mirtilo e estava incrível. As minhas amigas também gostaram dos crepes de chocolate branco e de chocolate preto e morangos. Recomendo - foi um final de tarde delicioso.
DIA 3
Este foi o meu dia favorito - estava muito sol e fomos para sul. A primeira paragem foi a Praia da Foz dos Ouriços, uma praia bastante escondida em Almograve. O trilho não está muito marcado, mas dá para chegar ao areal sem grandes dificuldades, depois de deixar o carro numa clareira pequena, a que o GPS nos levou. A praia é muito selvagem e isso fá-la ainda mais bonita. Com pouca gente por causa do acesso mais complexo, a praia tem água doce assim como água salgada, o que a torna singular. Tem muita vegetação e imensas rochas, o que dificulta ir à água, mas contribui para a beleza da Foz dos Ouriços. Não ficámos muito tempo, principalmente porque tínhamos muitas praias para ver nesse dia e porque queríamos ir tomar um banho no mar, mas esta praia vai ficar sem dúvida na minha memória como uma das praias mais únicas e bonitas da minha viagem. Vale a pena visitar, nem que seja simplesmente para se ver um exemplo de um tesouro escondido da Costa Vicentina.
Seguimos para a Praia de Almograve, bastante mais conhecida e popular. Foi a praia em que estivemos mais cheia, mas mesmo assim encontrámos lugar, respeitando a distância entre chapéus. Com poucas rochas de um dos lados da praia, conseguimos ir à água com facilidade. Tem um envolvimento bonito, com água cor de esmeralda e um fácil acesso de carro. Ao lado, tem uma outra praia muito mais pequena mas igualmente linda.
Depois de um almoço de rissóis e croquetes, partimos para Zambujeira do Mar. Já tínhamos estado as três nesta localidade e conhecíamos a Praia da Zambujeira do Mar, pelo que não a visitámos desta vez. No entanto, recomendo muito - é uma praia super agradável e bonita, que também faz parte das 7 Maravilhas - Praias de Portugal!
Optámos por ir à Praia do Carvalhal. Com bastante espaço para estender a toalha, não deixa de ser uma praia intimista, rodeada em quase todos os lados por grandes rochedos, alguns cobertos pelo verde da vegetação. Perfeita para dar uns mergulhos e muito agradável.
Mesmo depois da praia (ou antes, dependendo da direção por onde vem) existe um parque com animais - desde avestruzes a búfalos e zebras. Não sei o nome do parque, pois não encontrei nada sobre isso no Google Maps, mas é uma oportunidade de ver animais lindos e tirar umas fotos aos mesmos.
E chegamos à que foi, provavelmente, a minha praia favorita de todas. A Praia da Amália, anteriormente conhecida como Praia do Brejão, é simplesmente incrível. Só chegar lá já é uma peripécia, obrigando aqueles que a querem descobrir a passar por caminhos que são, aparentemente, duvidosos, mas que vão dar ao sítio certo! A passagem é estreita e faz lembrar uma selva, com lama no chão, um túnel feito de canas e raízes de árvores em tudo o quanto é sítio. O meu espírito aventureiro adorou cada segundo e, mesmo antes de ver a praia, já estava apaixonada por aquele local.
A praia em si não desaponta, mesmo, mesmo nada. Situada entre montes, combina perfeitamente as paisagens marítima e fluvial num só local, com um riacho e uma cascata de água doce a complementar a típica praia de água salgada. Tem umas ruínas que também lhe dão muita graça, e mesmo juntinho à costa existe a Herdade Amália, comprada por, nem mais nem menos, a própria fadista Amália Rodrigues, que adorava passar férias naquela zona e frequentar a praia. E compreendo bem porquê - a praia é mesmo linda, especialmente por causa da cascata, que tem sempre uma curta fila para lá ir (tirar fotos ou só tomar banho), por ser tão popular.
A quinta e última praia que visitámos nesse dia foi a Praia de Odeceixe, já em Faro. Este foi o ponto mais a sul a que fomos durante a viagem, e foi um sítio encantador para passar um bom final de dia. A praia é muito grande e tem um formato bastante diferente, sendo rodeada por mar por todos os lados exceto um, quase aparentando ser uma ilha. Gostei imenso e gostei também do que vi de Odeceixe, com as suas casinhas brancas, e o passeio inclinado até à praia. Esta foi uma das praias que me deu imensa vontade de voltar, principalmente com mais tempo para lá passar. É também outra das praias eleitas como 7 Maravilhas - Praias de Portugal.
A ideia era ver o pôr-do-sol, mas com toda a logística de ir jantar fora acabámos por ter apenas uns vislumbres deste fenómeno.
Jantar
Bar da Praia - Com preços equivalentes ao que se espera de um restaurante à beira-mar, o Bar da Praia é caro mas é bom. Não tem muita variedade, e eu acabei por fazer uma má escolha - pedi uma salada de tomate e queijo de cabra, com cebola caramelizada, que era boa mas vinha em bastante pouca quantidade, principalmente para o preço que era - 9.80€. No entanto, a tosta mista alentejana e o caldo de lulas que as minhas amigas pediram estavam bons, e a nossa sobremesa, um brownie para cada, era delicioso.
DIA 4
No último dia inteiro no sul, decidimos ir ver duas praias que nos faltavam e aproveitar para descansar antes da longa viagem que iríamos ter no dia seguinte. De manhã, fomos à Praia da Ilha do Pessegueiro, em Porto Covo. A ilha é bem mais perto do areal do que eu imaginava, o que dá bastante graça à praia. Super tranquila e bonita, é uma praia a não perder durante uma viagem pela Rota Vicentina!
De tarde, fomos à Praia Grande de Porto Covo. Com um agradável bar de praia e o ocasional senhor das bolas de berlim, é uma boa praia para passar uma tarde - é vigiada, de fácil acesso de carro e não deixa de ser tão bela como as outras da zona.
E assim se termina uma viagem divertida e com algumas aventuras pelo meio. Gosto sempre de acampar e de estar no meio da natureza, para além de adorar roadtrips, por isso tinha grandes expectativas para esta descida (e subida) da costa. Não fiquei desapontada - Portugal tem mesmo praias incríveis, e não é preciso ir para o Algarve para as ver! A verdade é que fiquei em pulgas para completar a Rota Vicentina e ir de Aljezur a Sagres, tudo zonas que ainda não conheço. Se as suas praias forem tão bonitas como as que vi no Alentejo, tenho mesmo de começar a planear uma próxima viagem por lá!
Gostas de praias fluviais, espaços verdes e paisagens rurais? Se sim, continua a ler, porque vou falar de uma linda vila portuguesa que com certeza vais adorar, se é que já não a conheces.
Estou a referir-me a Góis, uma vila na Beira Litoral, pertencente ao distrito de Coimbra, pela qual passa a Estrada Nacional 2. Góis é para mim como se fosse uma segunda casa. Foi onde a minha mãe nasceu e cresceu, e onde durante muitos anos os meus avós estiveram a viver. Logicamente, é uma vila onde passei grande parte da minha infância, especialmente no verão. É uma vila que faz e vai fazer sempre parte de mim e por isso, ao regressar lá há umas semanas, depois de um ano sem a visitar, tive a ideia de partilhar este recanto um pouco escondido do país, porque vale mesmo mesmo a pena conhecer, e as fotos que irei mostrar vão prová-lo.
Digo que é um recanto escondido porque penso que é uma vila que muitos não conhecem, ou que subestimam e não se dão ao trabalho de conhecer. No entanto, a verdade é que é em Góis que ocorre todos os anos uma das duas concentrações de motos mais conhecidas de Portugal: a Concentração Internacional de Motos em Góis. Costuma passar na televisão e, em 2019, trouxe mais de 20 mil motociclistas à vila durante os seus 4 dias de duração.
Apesar de nunca ter conduzido uma mota na vida e não ter particular fascínio por este meio de transporte, adoro a concentração de motos. É uma altura do ano em que Góis está apinhado de gente, o que às vezes pode ser um bocado chato, mas a energia e animação que todos transmitem é super contagiante e é muito giro ver Góis repleto de pessoal de todo o país - e até de fora de Portugal! Muitas motas que o pessoal leva são espetaculares ou muito diferentes do que é habitual ver no dia-a-dia, o que implica tirar muitas fotos para recordar. A concentração também envolve muitos stands de tattoo artists, roulotes de comida e muita música e concertos ao vivo! O bilhete geral fica em cerca de 25-30€, e ainda tem direito a acesso ao campismo e t-shirt oficial do evento, entre outras regalias! Infelizmente, no último ano não pude ir pois tinha outros planos, e este ano a concentração foi cancelada, por causa da pandemia. Estou cheia de saudades, e não tenho dúvidas de que em 2021 lá estarei!
Embora muita gente conheça Góis por causa desta concentração anual, a verdade é que a vila tem muito mais para oferecer e é por essas coisas que quem lá vai, quer sempre voltar. Em baixo dou algumas dicas do que ver e por onde passear. Para mim, estes são os locais mais bonitos desta vila:
Parque do Cerejal. Com imensas árvores, relva e mesas de piquenique, é o local indicado para estender uma manta e almoçar ao ar livre. Tem um grande parque infantil para os mais pequeninos, um coreto muito giro, atrás do qual se encontra um café com esplanada, e ainda a Praia Fluvial do Cerejal! Esta é uma das praias mais sossegadas de Góis e tão bonita como todas as outras. Tem uma ilha com areia fina para estender a toalha, e é envolvida por um extenso arvoredo, que lhe confere uma grande tranquilidade.
Ponte de Góis. Apenas a 8/10 minutos a pé do Cerejal, esta ponte encontra-se sobre o rio Ceira e permite ter uma boa vista sobre o mesmo, assim como sobre a praia fluvial lá perto, a Peneda.
Praia Fluvial da Peneda. Esta é a praia mais conhecida e também a praia que tem mais espaço para estender as toalhas. Com um areal semelhante ao da praia do Cerejal, tem também um espaço verde com relva e muita sombra, no qual algumas pessoas optam por ficar. Mesmo pertinho da praia existe uma grande esplanada, que é parcialmente construída sobre a água, muito agradável! É um bom sítio para lanchar, tomar café ou até almoçar.
Pego Escuro. A uns 5 minutinhos a pé, encontra-se outra praia fluvial, mais recatada, mas igualmente encantadora. Se se sentirem com coragem, podem ir a nado desde a Peneda!
Capela do Castelo e miradouro. Ao pé do parque de campismo de Góis encontra-se uma capela pequenina (onde os meus avós casaram!) e também um miradouro, através do qual se consegue ter uma vista privilegiada daquela zona de Góis, assim como para a Serra de Açor.
Igreja da Misericórdia e Igreja Matriz de Góis. Ambas as igrejas têm uma arquitetura particular e interessante e ficam mais perto do centro da vila.
Há muitos outros locais históricos em Góis que têm sem dúvida o seu interesse, mas para mim estes são os sítios mais bonitos e que mais valem a pena conhecer! Nos arredores de Góis existem também outras povoações e praias fluviais igualmente belas e agradáveis, pelo que a minha recomendação é explorar um pouco à volta, para tirar o melhor partido desta zona!