Intra-Rail pelo Norte // Aveiro, Porto, Guimarães & Viana do Castelo
Desde que soube da sua existência, que sempre quis fazer um Inter-Rail. Que amante de viagens, especialmente de viagens de comboio, como eu, não quer? Parece um sonho, viajar livremente pela Europa, com o transporte entre cidades e países pré-pago, resultando em menos preocupações. Devo confessar que acho que há qualquer coisa de espetacular poder dizer que “fiz um Inter-Rail”.
No entanto, nunca o fiz. Continuo com esse sonho, mas ainda não tive oportunidade de o realizar e, agora com a situação do COVID-19, não terei essa oportunidade tão cedo. No entanto, tive a chance de fazer uma outra viagem há uns anos, em muito semelhante a um Inter-Rail mas com uma pequena diferença: é em Portugal.
Em 2016, no verão mesmo depois de completar o ensino secundário e antes de entrar na universidade, fiz um Intra-Rail. Para aqueles que não sabem o que é, um Intra-Rail é um passe de 3 ou 7 dias, que durante esse período de tempo, vos permite viajar à vontade de comboio por Portugal e incluí, respetivamente, 2 ou 6 noites em pousadas da juventude por todo o país. Pode ser adquirido em qualquer ponto de venda da CP e há desconto caso tenham cartão jovem. É, basicamente, a versão low-cost e mais perto de casa de fazer um Inter-Rail - até a podem ver como um treino para viajar lá fora.
Dito isto, o Intra-Rail não foi só mais uma viagem. Foi uma das minhas viagens favoritas, uma das mais divertidas que tive e bonitas, também. Porque viajar dentro do nosso país não tem de ser menos espetacular do que viajar lá fora. Temos a sorte de ter praias incríveis, parques lindíssimos e uma variedade de monumentos de tirar o folêgo. E, na minha opinião, não há melhor altura para explorar Portugal do que agora mesmo - já que estamos nesta situação de pandemia mundial, porque não aproveitar e tirar partido do melhor que o país tem para dar?
Assim, deixo aqui a minha experiência com o Intra-Rail, incluindo cidades visitadas e o que gostei mais em cada uma delas.
Fiz a viagem com mais 5 amigas minhas e escolhemos a modalidade dos 7 dias, por acreditarmos que compensava mais. Optámos por ir para o Norte e decidimos fazer o trajeto Aveiro ➡ Porto ➡ Guimarães ➡ Viana do Castelo (incluindo um dia em Ponte de Lima), partindo de Coimbra.
Como o passe inclui as dormidas nas pousadas da juventude, convém marcar com antecedência junto das mesmas, para garantir que há lugar para todos. Decidimos passar uma noite em Aveiro, duas no Porto, uma em Guimarães e duas em Viana do Castelo. Acho que foi um bom plano, com uma pequena exceção: gostei tanto de Guimarães, que fiquei com pena de só lá passar uma única noite, apesar de termos aproveitado bem o dia em que lá estivemos.
Uma das vantagens do Intra-Rail é que, como temos as viagens de comboio asseguradas, podemos escolher qualquer uma (exceto Alfa-Pendular), a qualquer hora - só temos de passar na bilheteira uns minutos antes para validar o passe e obter os nossos bilhetes. Isto permite-nos uma grande flexibilidade, que foi algo que eu gostei. Não tínhamos de ter tudo planeado ao milímetro, nem pouco mais ou menos. Apenas sabíamos que em dia X e Y íamos dormir em determinada cidade, e o resto era ao sabor do vento.
AVEIRO
As minhas sugestões para Aveiro são:
- Fazer um passeio de Moliceiro, o tradicional barco de Aveiro. Não é por acaso que esta cidade é conhecida como a Veneza de Portugal...
- Visitar o Parque da Cidade (Parque Infante D. Pedro). Muito agradável, com sombras e mesas, é perfeito para fazer piqueniques. Também é bom para tirar fotos - ficámos umas boas horas a fazê-lo!
- Comer uma tripa de Aveiro, de preferência, de chocolate. Só de me lembrar, fico com água na boca. Esta é daquelas coisas que não pode mesmo faltar!
- Comprar uma caixinha de ovos moles - confiem em mim, a vossa família vai agradecer-vos.
Algo que também vale a pena mas que não fiz durante o Intra-Rail é:
- Visitar a Costa Nova. As suas casinhas tão características são encantadoras.
- Fazer praia na Barra. Com um grande areal, um bonito farol e a possibilidade de comprar tripas de chocolate mesmo pertinho (não sei se já repararam no meu fascínio pela comida desta cidade), é o sitio indicado para passar um belo dia!
PORTO
Tivemos dois dias no Porto, porque, como todos sabem, é um sítio com muito para ver. Mesmo assim, para realmente aproveitar a cidade, não acho que seja suficiente - o melhor é mesmo três ou quatro dias para ver o que o Porto tem de melhor!
As minhas sugestões são:
- Passear pela Ribeira do Rio Douro e subir à ponte de D. Luis. É algo bastante cliché, mas acho que vale a pena realçar, porque é um sítio que eu acho muito, muito bonito. Ver o pôr-do-sol do cimo da ponte é espetacular. Poder sentar-me numa esplanada num dia de sol à beira rio e a observar o movimento à minha volta é um excelente fim de tarde e, sempre que vou ao Porto, não posso deixar de repetir esta experiência!
- Ir à Fundação de Serralves. Este é um sítio mesmo perto da Pousada da Juventude, pelo que, para nós, foi um saltinho até lá. Tem um dos parques mais bonitos de Portugal (perfeito para fotos) e oferece também a oportunidade de admirar a coleção de arte contemporânea da Fundação. Passámos a manhã inteira perdidas pelo parque, e perder-me-ia novamente. Vale mesmo a pena, é lindo.
- Comer francesinha. Devo confessar que não sou a maior amante deste prato, mas quando é bem feito, sei reconhecer. Podem encontrá-lo em quase todos os restaurantes, mas recomendo irem ao Capa Negra, não vão ficar desiludidos.
- Visitar a Livraria Lello. Apesar da J.K. Rowling, a famosa escritora de Harry Potter, ter vindo muito recentemente anunciar que este local não foi, de facto, inspiração para a lendária série de livros, a Livraria Lello continua a merecer a atenção de todos nós.
- Deambular pelas ruas do Porto. Acho que, mais espetacular do que visitar monumentos nesta cidade, é mesmo passear lá fora, ir à descoberta. Caminhar pelas ruelas coloridas e rústicas que caracterizam esta zona é imperdível. Passámos pela Torre dos Clérigos, Avenida dos Aliados e Sé do Porto, por exemplo. Todos emblemáticos e que enriquecem a experiência de visitar esta cidade.
GUIMARÃES
Cheia de história, acho que esta cidade encanta qualquer um. Começando pela Pousada da Juventude, com um aspeto diferente das outras, mais rústico, e mesmo pertinho do centro histórico de Guimarães. Ficámos num quarto para as 6 super espaçoso, o que nos soube bem. Tenho a sensação que éramos quase as únicas hospedadas na pousada, o que significava que podíamos estar mais à vontade.
No geral, o ambiente da cidade é quase como que o ambiente de uma aldeia, sem confusões, e acho que foi isso que gostei mais. Quero voltar a Guimarães um dia, mas desta vez com carro, porque senti que, ao contrário das outras cidades, gastámos bastante tempo e energia a ir de um ponto de interesse para outro.
Sugestões:
- Ir até à Montanha da Penha. Vai-se de teleférico até lá, e só por essa viagem já vale a pena. Percorre 1700 metros e trata-se de, provavelmente, o primeiro teleférico a entrar em funcionamento em Portugal! A montanha em si é linda e possui um parque de campismo no qual eu fiquei cheia de vontade de me hospedar. A Penha proporciona vistas únicas sobre a região e tem o Santuário da Penha, uma obra emblemática de Guimarães.
- Visitar o Castelo de Guimarães. Com a possibilidade de andar pelas muralhas e de explorar o seu interior, este castelo tem sem dúvida o seu interesse, particularmente para quem gosta de história.
- Passear pelas praças e largos. Guimarães tem a Praça de São Tiago, que à noite ganha ainda mais vida. Tem também o Largo da Oliveira, com a Igreja de Nossa Senhora da Oliveira e o Padrão do Salado, um monumento único. Para terminar, a mais bonita igreja de Guimarães, na minha opinião, é a Igreja de Nossa Senhora da Consolação e Santos Passos, pelo menos por fora. Não tive oportunidade de entrar, mas achei-a imponente, assim como as duas torres que a ladeiam.
PONTE DE LIMA & VIANA DO CASTELO
Decidimos, enquanto estávamos em Viana, ir um dia a Ponte de Lima. Como não tínhamos carro, sinto que perdemos a oportunidade de conhecer a vila como deve ser, mas mesmo assim conseguimos admirar a sua beleza natural junto ao rio em várias ocasiões. Algo que também gostei, e a principal razão pela qual decidimos ir à vila, foram as Feiras Novas, uma festa anual que estava a decorrer nessa altura. As ruas estavam animadas, cheias de música e bancas de comida, o que contribuiu para tornar a nossa visita mais interessante!
Relativamente a Viana do Castelo, as minhas sugestões são:
- Ir até à Praça da República. É um dos principais pontos turísticos da cidade, e com boa justificação - uma praça bonita, com três monumentos nacionais: o Chafariz, os Antigos Paços do Concelho e o Edifício da Misericórdia.
- Comer uma bola de berlim. Eu sou apaixonada por bolas de berlim. E, durante muito tempo, achava que era impossível haver melhor do que as das praias do Algarve. Depois, provei as bolas da Pastelaria Cafetaria Natário e finalmente vi a luz (muito dramático, eu sei). São incríveis, espetaculares, deliciosas. A pastelaria fica mesmo ao pé da praça da República e costuma ter fila - se não tiver, é porque provavelmente as bolas já acabaram. Fabricam 1000 por dia, em várias alturas, pelo que o melhor é irem lá com antecedência perguntar as horas de fabrico, para não arriscarem perder esta oportunidade!
- Passear no centro histórico. Com ruas, ruelas e praças, Viana do Castelo tem alguns tesouros mais escondidos, e recomendo caminharem sem rumo, para explorar a cidade. A Sé Catedral de Santa Maria Maior é um dos exemplos do que podem encontrar.
Algo que não tivemos oportunidade de fazer, mas que deve valer a pena:
- Subir a Santa Luzia. Infelizmente, o elevador estava avariado quando lá fomos!
Em Viana, também nos aconteceu algo que tornou a cidade ainda mais especial: saíram os resultados das colocações para a entrada no ensino superior! Foi na última noite, e pouco dormi com todo o entusiasmo. No dia seguinte, a regressar a casa, não falávamos de outra coisa. No fundo, estávamos a terminar uma aventura e, ao mesmo tempo, a começar outra bastante diferente e que, como todas as aventuras, nos marcaria de uma forma única.
Aquilo que mencionei neste post não é tudo o que acho que valha a pena fazer nestas cidades, nem tudo o que fiz - são apenas alguns destaques das coisas que mais gostei e que quero recomendar.
Quero salientar que o Intra-Rail não é necessariamente a maneira mais barata de fazer uma viagem destas. Se marcarem tudo com antecedência, incluindo alojamento e viagens de comboio (um a dois meses antes), penso que conseguem uma viagem mais económica. No entanto, se como nós, quiserem estar mais à vontade e ter um plano flexível, julgo que o Intra-Rail é uma ótima opção - podem decidir a hora a que vão para uma cidade no próprio dia ou no anterior, como nós fazíamos sempre. Assim, se gostarem muito de um sítio ou se mudarem de ideias, podem adaptar a viagem com facilidade.
Espero ter inspirado alguém a enfiar-se no comboio (ou no carro, ou na bicicleta) e partir à descoberta de Portugal! Por mais que pensem que conhecem o país, garanto-vos que ele vos vai surpreender. ;)
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